quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Flávia, uma história de amor ...


Odele Souza e Flávia, há 13 anos




Nesse nosso mundo que anda rápido demais para o coração dos homens, numa sociedade desenfreada que tudo sacrifica em função do consumo de toda sorte de coisas, pessoas e sentimentos, muitas vezes passamos batido diante do sofrimento humano - que aliás alimenta o consumo da mídia e é diariamente banalizado por ela.

Se perdemos a capacidade da verdadeira compaixão, perdemos tudo. É um sintoma sério de que a nossa condição humana está indo pelo ralo. Não podemos deixar os deuses de ocasião nos reduzirem a meros espectadores do grotesco, como vem acontecendo. Devemos recusar o cardápio bizarro que nos é oferecido todos os dias dentro de casa, com a progressiva invasão de privacidade e o bombardeio de inutilidades que nos desvia de sermos gente.

Por isso quero falar de Flávia, uma doce menina que há dez anos está em coma porque foi sugada por um ralo de piscina. E de sua mãe, Odele, uma resistente de dar inveja. Em visita a um blog de Portugal, deparei-me com o endereço http://flaviavivendoemcoma.blogspot.com. Mal sabia eu o que encontraria lá dentro.

Flávia, que poderia ser a filha de qualquer um de nós, está em coma há dez anos mas tem muitos amigos e admiradores. Possui uma vida de amor e carinho, participação e presença, graças ao empenho diário de sua mãe, Odele. Uma pessoa que, em vez de se amargurar e apontar um dedo acusador para o mundo, optou por viver e lutar, cuidar da filha e dar-lhe voz. Mais do que isso: optou por trabalhar pela conscientização das pessoas e para tentar, na medida do possível, evitar que outras pessoas tivessem o mesmo destino de Flávia.

Odele conseguiu reunir em torno da menina um tal círculo de amor que todos se sentem compelidos a conversar com ela, a enviar-lhe carinho e procurar envolver-se com a causa. Na verdade, a gente não pensa em ralo de piscina, pensa? A não ser que já se tenha ouvido falar de algum acidente desse tipo. Eu, por acaso, já tinha, mas a velocidade do mundo já havia arquivado a informação. Que agora acordou, ao saber da Flávia.

Estou encantada com sua mãe. Tanto que ontem não resisti e lhe mandei um email com um abraço dentro. Foi tudo o que consegui fazer, e para minha surpresa à noite já recebia uma resposta muito doce e carinhosa. Na verdade, senti-me tão mínima diante da grandeza daquela mulher que não sabia como chegar a ela, e no entanto o pouco que ofereci foi recebido com grande festa. Espanta-me e comove-me a sua energia límpida. Não se percebe um traço de mágoa sequer. Odele trabalha pela felicidade da filha em coma, uma idéia que dificilmente seria concebível em qualquer cabeça que não fosse muito, muito especial. E consegue milagres todo dia. Faz questão absoluta de ler para a filha as palavras de carinho que lhe são dirigidas. Contava-me, no email de resposta, como ficou comovida com a voz gravada do português António, que fez questão de falar com a menina. O seu apreço pelas pequenas delicadezas que sabe fazerem bem à filha é realmente algo de divino, uma experiência de beleza, como diria a Adélia Prado.

Flávia vive em coma uma vida especial, graças à dedicação de sua mãe. Se pudesse eu daria a Odele Souza um desses prêmios de Mulher do Ano, ou antes de Mulher de uma Vida. Não falo de troféus-bobagem, mas sim de alguns prêmios que efetivamente reconhecem o papel de muitas mulheres para o bem da nossa sociedade, que já foram conferidos, com toda justiça, a personalidades como a Dra. Rosa Célia Fernandes, criadora do Pró-Criança Cardíaca, uma batalhadora incansável pelos direitos de toda criança com cardiopatia grave.

Através do seu constante amor e de sua determinação, Odele dá uma vida à filha e, ao mesmo tempo, luta com consciência e verdade para que se fiscalizem mais os fabricantes de equipamentos para piscinas e as empresas que constroem as piscinas. É preciso que sejam usados, em cada obra, equipamentos não só em perfeito estado como compatíveis com o tamanho da piscina que está sendo construída. A Flávia acidentou-se na piscina do próprio prédio onde morava. Com certeza Odele nunca pensou que isso fosse possível, mas aprendeu da pior maneira. E a sua incondicional compaixão não lhe deixa esquecer que outras pessoas podem ser vitimadas, portanto ela não deixa de lutar.

Desejo contribuir, na minha estreita medida. Não sou grande como ela mas sou jornalista - um estado de alma mais do que uma profissão. E fiz um juramento quando me formei. Portanto estou aqui para ajudar a dar voz à causa de Flávia, à causa de Odele. Só quero pedir que visitem o seu blog, conheçam a sua história e divulguem o máximo que puderem. Com amor e persistência, do jeito que a própria Odele faz.

Talvez assim a gente possa participar da felicidade da Flávia, levar a ela o nosso carinho e dizer o quanto nos importamos com ela.

Fica aqui o endereço e o meu eterno respeito por essa grande mulher chamada Odele Souza. Que conheço por uma foto, um email e um maravilhoso exemplo de sabedoria e amor.


http://flaviavivendoemcoma.blogspot.com

Fonte: Blog Jornalístico.

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